Montadas exposta: o laboratório da política suja e o silêncio que protege seus autores

A verdade apareceu. E ela tem nome, cargo comissionado e proteção de gabinete

Publicado: 20/05/2025

Durante participação no Se Liga PB, Romildo Gonçalves — atual secretário de Assistência Social de Montadas



Montadas, cidade pacata no papel, tornou-se palco de uma trama política que revela como o jogo eleitoral pode ser conduzido com máscaras e perfis falsos — literalmente. A Polícia Federal identificou Romildo Gonçalves, atual secretário de Assistência Social e homem de confiança do prefeito Romero Martins, como o responsável por um perfil utilizado durante as eleições de 2024 para atacar o então prefeito Jonas de Souza e seus aliados.

À época, Romildo e Romero faziam parte da oposição. O perfil operava à margem da identidade verdadeira, mas no centro das estratégias eleitorais. Após a vitória nas urnas, Romero assumiu o comando da prefeitura e Romildo ganhou seu espaço no primeiro escalão do governo. Agora, a revelação da PF lança luz sobre um processo eleitoral que, pelo que tudo indica, não foi apenas vencido com votos — mas com veneno digital.

Trata-se de um caso emblemático, não só pelo que expõe, mas pelo que representa: o uso de redes sociais como instrumentos de manipulação, difamação e destruição de reputações. Ferramentas legítimas da democracia estão sendo convertidas em armas de guerra suja — e neste caso, supostamente com a participação direta de quem hoje ocupa cargo público.

A gestão municipal, no entanto, reage com um silêncio ensurdecedor. Nenhuma manifestação oficial. Nenhum afastamento preventivo. Nenhuma sindicância anunciada. O que se vê é o velho reflexo da política tradicional: proteger os seus, blindar os aliados e deixar que o tempo sepulte a indignação.

Romildo, claro, tem o direito de se defender. Mas a prefeitura também tem o dever de agir. Permanecer imóvel diante de uma revelação dessa gravidade é, no mínimo, endossar os métodos utilizados. É fechar os olhos para a origem de uma vitória que, agora, carrega um peso ético insustentável.

É inevitável perguntar: quantas outras campanhas em cidades pequenas são vencidas com base em perfis apócrifos, ataques covardes e mentiras plantadas? E pior: quantos desses articuladores acabam recompensados com cargos públicos, salários pagos pela população que foi enganada?

Montadas não pode seguir como laboratório da impunidade digital. Ou se rompe com esse modelo, ou estaremos oficializando a prática da política subterrânea, onde vale tudo para vencer — desde que ninguém descubra.

A verdade apareceu. E ela tem nome, cargo comissionado e proteção de gabinete.

Paolloh Oliver

Jornalista político

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