Homofobia: jovem de 17 anos morre de traumatismo craniano após espancamento coletivo

O ataque ocorreu na Rua Três Poderes, no bairro Gilberto Mestrinho, zona leste da capital amazonense.

Publicado: 08/07/2025

FOTO: REPRODUÇÃO



Fernando Vilaça da Silva, de 17 anos, morreu no último sábado (5) em Manaus (AM), dias após ser brutalmente agredido em um episódio que, segundo familiares, teve motivação homofóbica. O jovem, que cursava o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Jairo da Silva Rocha, foi espancado na quarta-feira (2) após responder a insultos preconceituosos enquanto ia à taberna comprar leite.

De acordo com informações da família, Fernando sempre foi um adolescente pacato, dedicado aos estudos e ao cuidado com seus animais. Com os recursos do programa Pé-de-Meia, ele mantinha dez gatos e dois cachorros em casa e economizava para tirar a habilitação ao completar 18 anos.

O ataque ocorreu na Rua Três Poderes, no bairro Gilberto Mestrinho, zona leste da capital amazonense. Vídeos divulgados nas redes sociais mostram os suspeitos fugindo após a agressão, enquanto Fernando aparece caído, com parte do corpo sobre a calçada e a cabeça na rua. Segundo o relatório do Instituto Médico Legal (IML), ele sofreu traumatismo craniano, hemorragia intracraniana, edema cerebral e lesões causadas por ação contundente.

O tio da vítima, Elson Amorim Vilaça, relatou que Fernando foi atacado após reagir a provocações homofóbicas. “[Ele] foi apenas comprar um pacote de leite na taberna, quando chegou lá no meio do caminho, os ‘moleque’ ficaram chamando ele de ‘viadinho’, de um monte de coisa, ele não aguentou e foi reivindicar. Devido a essa reivindicação, o outro veio e agrediu ele covardemente. Ele foi pro Platão [Araújo], depois pro João Lúcio, e fez uma cirurgia de risco e deu morte encefálica”, contou em entrevista ao Portal Vizinho TV.

A tia do adolescente, Klíssia Vilaça, também expressou sua dor. “Ele sempre foi um menino muito tranquilo, nunca deu trabalho pra ninguém. O que fizeram com ele foi muita covardia, ele não merecia isso, não”, disse à CENARIUM.

O irmão da vítima, Gutemberg Vilaça, lamentou o ocorrido: “O que fizeram com meu irmão não se faz nem com bicho. Todos conheciam ele. Ia da escola para casa. Queremos justiça, queremos que ele não seja só mais um!”, declarou à TV Norte Amazonas.

O caso gerou comoção nacional. A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) utilizou as redes sociais para manifestar seu pesar e anunciou ter protocolado um pedido formal ao Ministério dos Direitos Humanos para que o órgão acompanhe o caso de forma oficial. “É dilacerante pensar que uma pessoa, que tinha a vida toda pela frente, teve sua trajetória interrompida por questionar o porquê de estarem lhe chamando de ‘viadinho’”, escreveu a parlamentar.

No requerimento enviado, Hilton solicita a inclusão do caso nos sistemas de monitoramento de crimes de LGBTQIAfobia, além da oferta de apoio jurídico, psicológico e social à família. Ela também pede ações conjuntas com o Ministério Público do Amazonas e o Ministério da Educação para combater a homofobia nas escolas.

A OAB Amazonas também se manifestou, destacando que a capital amazonense teve, em 2022, o maior número de assassinatos violentos de pessoas LGBTQIAPN+ no Brasil. Em nota, a entidade declarou: “Esta comissão externa expressa solidariedade, apoio e estende as mãos à família do adolescente. Destacamos a necessidade urgente de reflexão por toda a sociedade amazonense diante do cruel massacre à população LGBTQIAPN+ vivido nos últimos tempos”.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania também se pronunciou oficialmente, classificando o crime como uma afronta à dignidade humana. A pasta relembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) equipara crimes motivados por LGBTQIAfobia ao crime de racismo. “O MDHC reforça seu compromisso com a defesa da vida e dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e com o enfrentamento à violência motivada por ódio, preconceito e discriminação. Nos solidarizamos com os familiares de Fernando Vilaça da Silva, colocamo-nos à disposição para acompanhamento do caso e informamos que os encaminhamentos cabíveis já estão sendo realizados junto à Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos”, declarou o ministério.

Saiba mais: https://www.instagram.com/reel/DL2t0B4Rf3l/?igsh=NGg4Y28xeWhhaXpj

Por Redação

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